sábado, 19 de dezembro de 2009

LOTUS - A POSTURA DA FLOR DA HARMONIA





Um dos asanas mais importantes da ioga, o padmasana tem como raiz a oriental flor de lótus, que nasce na lama, alcança a luz do Sol e desabrocha em todo seu esplendor.

A ioga buscou inspiração na delicada flor de lótus, originária do Oriente, para criar uma de suas posturas mais clássicas: o padmasana (em sânscrito, padma significa “lótus”, e asana, “posição”). É nessa pose, inclusive, que são representados Buda e os grandes mestres da humanidade.
Não foi apenas sua beleza que chamou a atenção dos gurus iogues há séculos. Apesar de ela flutuar na superfície da água, as raízes nascem na lama e é daí que se desenvolve. Por sua natureza dual, é considerada símbolo do caminho espiritual. “Apoiando-se no que há de mais impuro, a flor alcança a iluminação”, explica o professor de ioga Pedro Kupfer, do Instituto Dharma-Yogashala, de Florianópolis. “As pessoas que querem crescer espiritualmente também precisam transcender o lado escuro da vida e da condição humana para se desenvolver.”
E como esse asana pode iluminar o caminho do crescimento interno? “Quando se executa a posição de lótus, a coluna fica completamente ereta, propiciando a subida e a circulação da kundalini, a energia cósmica que está latente na base da coluna, ampliando o estado de consciência”, explica a professora de ioga Sundari Shakti, do Instituto Yaat de Cultura Indiana, de São Paulo.

Calma e harmonia

Quem vê os praticantes sentados em lótus, com as pernas cruzadas e os pés sobre as coxas, não pode imaginar que esse simples gesto é capaz de criar um perfeito circuito energético dentro do organismo. “A postura forma uma espécie de câmara fechada de circulação de energia”, compara Kupfer. “Ela impede a dispersão do prana, que é aproveitado para beneficiar o corpo, as emoções e a mente.”
Não é por acaso que o padmasana é considerado a posição clássica de meditação. O alinhamento da coluna e a estabilidade que ela oferece ajudam a mente a se concentrar, evitando as oscilações e os devaneios tão comuns ao pensamento, diz Sundari Shakti. “Por dar muita estabilidade física, a posição de lótus ajuda a desenvolver uma atitude de ponderação e leva o praticante a encontrar seu eixo e equilíbrio”, acrescenta
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Saúde em alta

Do ponto de vista fisiológico, o asana é um santo remédio para aumentar a flexibilidade dos tornozelos, do quadril e dos joelhos. E ainda há mais: como as pernas ficam dobradas, a circulação se concentra no abdômen e, além de irrigar e estimular o funcionamento dos órgãos ali situados, aumenta a irrigação e a oxigenação do cérebro e do coração.
A posição é muito relaxante quando o praticante estiver acostumado. Até lá, é possível que sofra um pouco para colocar os pés sobre as coxas e se sentir confortável. A boa notícia é que, com treino, a musculatura começa a se soltar, facilitando a execução da postura. Se isso não acontecer, a saída é achar uma posição mais agradável. “Asana é sinônimo de firmeza e conforto. É assim que a ioga deve ser praticada, para garantir a integridade do corpo e uma sensação agradável ao praticante”, ensina Kupfer.


Uma postura, três versões

Para facilitar a execução do asana, ele pode ser realizado com graus crescentes de dificuldade. As mãos ficam sobre os joelhos ou ao longo do corpo. Confira.
Sukhasana: sente-se e cruze as pernas diante do corpo. Mantenha a coluna reta.



Ardha padmasana, ou meio lótus: sente-se com as pernas estendidas à frente. Flexione o joelho esquerdo e coloque o pé perto da parte interna da coxa direita. Em seguida, flexione a perna direita e coloque o pé sobre a coxa esquerda, até que o calcanhar fique na altura do umbigo.


Padmasana, ou lótus completo: sente-se no chão com as pernas estendidas à frente. Flexione o joelho direito e coloque o pé sobre a coxa esquerda. Faça o mesmo com a perna esquerda e tente manter os calcanhares próximos ao umbigo. Os homens devem colocar a perna direita por cima, e as mulheres, a esquerda.



Jóia do Oriente

Venerada do Egito à China como símbolo da pureza espiritual, a flor de lótus tem sido representada, desde tempos imemoráveis, ao lado de deuses, budas e mestres iluminados.
Para os chineses, a flor representa o passado, o presente e o futuro porque contém, ao mesmo tempo, o botão, a flor e o fruto. No Oriente, o lótus simboliza ainda os níveis de consciência que os homens podem alcançar e o florescimento do potencial humano. Os budas em meditação geralmente aparecem sentados sobre flores de lótus e a expansão da visão espiritual que alcançam é simbolizada pela flor completamente aberta. Um dos principais mantras sagrados do budismo, “Om Mani Padme Hum”, significa literalmente “Da lama nasce a flor de lótus”.

As escrituras indianas que relatam a criação do Universo descrevem o centro do lótus como o berço do mundo. Elas contam que, do umbigo de Vishnu, nasceu uma esplendorosa flor de lótus e, dela, teria brotado Brahma, o criador do Cosmo. Nas gravuras indianas, os deuses costumam aparecer em pé ou sentados sobre a flor, um indicativo de sua divindade.
Segundo o pesquisador francês Jean Chevalier, autor do livro Dicionário de Símbolos (ed. José Olympio), a flor de lótus simboliza também “a taça da vida, a alma, o coração e o amor. Pode ser contemplada como uma mandala e considerada como um centro místico”.

TEXTO: FANNY ZIGBAND,"Bons Fluídos" ed.Abril

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