quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Ecologia Oculta



Todas as grandes religiões ensinam que o homem é um ser divino por natureza. Alegoricamente se diz que o homem comum vive em um estado de profundo sono, esquecido de sua real natureza, e que precisa despertar, abrir os olhos e abandonar a ilusão do “eu” separatista.

Embora a espiritualidade esteja latente em todo ser humano, é necessário em geral algum elemento externo para deflagrar o processo de redescobrimento da sua natureza divina. A grave crise ambiental que atravessamos está servindo como catalisadora do processo de regeneração do ser humano. A cada dia fica mais evidente que a Terra é um todo orgânico e que a própria sobrevivência da espécie humana estará ameaçada, caso não se reverta a escalada de degradação do meio ambiente.

Quando a casa está pegando fogo não há tempo para filosofar. É preciso agir. Problemas como a destruição da camada de ozônio, a poluição do ar, a contaminação dos alimentos e o desmatamento estão fazendo com que as pessoas se unam na busca de uma nova maneira de viver. Começa a despontar uma nova postura, uma nova consciência holística.

A moderna tecnologia tem contribuído para o desenvolvimento dessa nova visão de mundo. Quando, em 1969, os astronautas norte-americanos pela primeira enviaram à Terra imagens de nosso planeta visto de longe (da Lua), começou a se desenvolver uma nova consciência planetária. Para muitas pessoas essas imagens causaram grande emoção, porque a partir de então a Terra passou a ser percebida mentalmente não mais como uma abstração, mas como um corpo integrado. Surgiu a imagem da nave espacial Terra viajando pelo espaço sideral, tendo como tripulantes os seres humanos.

A televisão, apesar de todos os seus defeitos, tem contribuído para difundir essa nova cultura planetária. Diariamente ela leva a milhões de residências imagens de todos os cantos do mundo, com seus problemas, suas guerras e suas realizações. Esse partilhar das alegrias e dos sofrimentos de povos distantes vem contribuindo decisivamente para a redescoberta do sentido da unidade da vida naqueles que estão receptivos.

Processo universal

O movimento ecológico hoje deixou de ter apenas um objetivo preservacionista. Os rumos desse movimento transcendem as questões da qualidade de vida e sobrevivência do homem, estando dirigidos para o estudo das leis que governam a vida e para o descobrimento do papel do homem dentro do processo evolutivo universal. Nota-se uma convergência cada vez maior entre as leis que os ecologistas vêm estudando na sua busca de solução para os problemas ambientais e os princípios ocultos que são a base dos ensinamentos teosóficos. É esse aspecto oculto da ecologia que faz com que ela possa ser utilizada como veículo de regeneração da humanidade.

A seguir estão listados alguns princípios que são os pilares da visão de mundo dos ambientalistas. Da exposição que se segue, fica patente que esses princípios são uma expressão das leis ocultas estudadas pelos teosofistas.

1. O Sol é a fonte de toda a energia

O Sol é a fonte de onde recebemos o calor e a energia indispensáveis para a manutenção da vida biológica em nosso planeta. Sem o Sol a Terra seria um astro estéril e morto. Todos os processos biológicos estão intimamente ligados aos ritmos solares. Toda energia produzida a partir de fontes diversas tem sempre a sua origem no Sol.

A energia hidrelétrica depende da ação do Sol sobre os oceanos, propiciando a evaporação da água, a formação de nuvens e a chuva, que é indispensável na formação dos rios. O petróleo é vegetal, assim como o carvão natural. Os vegetais, incluindo a cana, que é a matéria-prima do álcool, só se desenvolvem na presença do Sol. Os ventos são resultantes de gradientes térmicos também provocados pela atividade solar.

O ocultismo afirma que o Logos Solar é o regente de nosso sistema. Em A Doutrina Secreta, de Helena Blavatsky, está dito que nossas vidas são partes da vida desse Grande Ser e que o Sol é o seu coração, seu centro vital. Seu cérebro, segundo Blavatsky, está oculto por trás do Sol visível. As ondas da essência da vida fluem por meio de artérias e veias invisíveis. Os planetas são os seus membros. Do Sol a energia é irradiada para todos os centros nervosos do Sistema Solar. Ele é o reservatório de energia do nosso pequeno Cosmo.

Da mesma forma que o coração humano pulsa regularmente para bombear o fluido da vida para todo o corpo, o Sol espiritual pulsa, conduzindo por meio de artérias invisíveis o prana, ou energia da vida, para todo o Sistema Solar.

O ocultista vai, assim, um pouco além dos ecologistas, uma vez que ele postula que não só dependemos do Sol para a geração de energia e para o crescimento dos vegetais indispensáveis à nossa alimentação, mas que nossa vitalidade dele provém. Somos células do Logos Solar. “Nele nos movemos e temos o nosso ser.”

2. Interdependência de todas as coisas

Um dos princípios mais importantes da ciência da ecologia é a lei da interdependência entre todas as coisas. Toda vez que o homem interfere na natureza, quebrando o equilíbrio natural, ele acaba prejudicando a si próprio. A derrubada e queima das florestas está causando o aparecimento de áreas desérticas e produzindo alterações climáticas que trazem prejuízos a populações de vários países. A poluição do ar, dos rios e dos mares está criando graves problemas de saúde.

Os ecologistas vêm questionando o significado do progresso, uma vez que a mentalidade de busca de lucros a qualquer preço da sociedade industrial tem se mostrado catastrófica para o meio ambiente. Hoje desponta entre os ambientalistas uma consciência de que precisamos aprender a viver juntos, e de que tudo que fazemos aos outros e ao meio ambiente acaba se refletindo sobre nós.

Esse princípio nada mais é do que uma formulação da Lei do Carma, da Lei da Ação e Reação. É a lei de justiça que está por trás de todos os fenômenos da natureza. Sempre que o equilíbrio é perturbado devido a uma ação irresponsável do homem, a própria natureza se encarrega de corrigir os desvios para que o equilíbrio possa ser restabelecido. Os remédios utilizados pela natureza, no entanto, são muitas vezes bastante amargos. A militância ecológica vem demonstrando que somente através de um amplo processo de conscientização será possível evitar uma grande catástrofe ambiental.

3. Responsabilidade pelo planeta

O conhecimento das leis da natureza está despertando um sentimento mais definido de responsabilidade pelo todo, pelo planeta. No passado, quando a população da Terra era relativamente pequena e os instrumentos de destruição eram mínimos, as agressões ao meio ambiente tinham efeito localizado e não afetavam o equilíbrio dos ecossistemas globais. A tecnologia moderna ampliou drasticamente o poder de destruição da natureza. Hoje, no lugar de machados, as florestas são devastadas com motosserras ou produtos químicos. No lugar de lanças e porretes temos bombas atômicas e mísseis intercontinentais.

A explosão demográfica, a escassez de alimentos e a miséria crescente dos povos do Terceiro Mundo exigem uma ação coordenada de todas as pessoas sensíveis. Quando recebemos pela imprensa imagens da fome na Nigéria e em outros países africanos, ou mesmo no interior de nosso país, não podemos permanecer indiferentes.

O sentimento de que somos responsáveis pelo todo é um princípio fundamental do ocultismo. A Teosofia ensina que somos como células de um organismo maior. Nossa vida é parte da vida do nosso planeta, que por sua vez é parte da vida do Logos Solar. Nossa ação influencia a vida universal. Como afirma Krishnamurti, “nós somos o mundo, e o mundo está em nós”.

4. Não somos donos do mundo

O conceito de posse, tão presente na nossa sociedade de consumo, está sendo muito questionado. Será válido aceitar que uns poucos privilegiados desfrutem os escassos recursos alimentícios e energéticos de nosso planeta, como se fossem donos do mundo, enquanto outros não têm acesso a um mínimo necessário para a sobrevivência? Até que ponto é justo aceitar que alguns privilegiados herdem fortunas enquanto outros nasçam para viver embaixo da ponte? Com que direito certos grupos desperdiçam alimentos enquanto outros vivem na miséria e não têm terra para plantar?

Um dos textos mais lidos e comentados entre os ecologistas é uma carta que o cacique Seatle escreveu ao presidente norte-americano no século passado, quando a palavra ecologia ainda nem havia sido criada. Nesse documento de extrema atualidade ele demonstra como é absurda a idéia de vender a terra onde viveram seus antepassados, vender o canto dos pássaros e a corrente dos rios. Em uma frase de grande profundidade, ele diz: “A terra não pertence ao homem, o homem é que pertence à terra”. Essa percepção da unidade da vida e do inter-relacionamento entre todas as coisas está sendo aos poucos resgatada, e é uma das maiores contribuições do movimento ecológico ao crescimento espiritual do ser humano.

Energia divina

Muitos pensadores e filósofos vêm afirmando que nossa sociedade, muito influenciada pelo materialismo, tem enfatizado em excesso o “ter”, em detrimento do “ser”. Os ocultistas de todos os tempos sempre ensinaram que o homem não é o senhor da criação, no sentido de ter direito de posse sobre os demais seres vivos e a terra. O homem só pode ser visto como senhor da criação na medida em que assume sua responsabilidade no processo da criação divina. Um dos grandes desafios para aquele que pretende trilhar a senda espiritual é se desapegar de todas as posses, incluindo o seu corpo, seus bens, ideologias e precon-ceitos. Só então ele pode se voltar para o desenvolvimento do seu verdadeiro ser, identificando a sua natureza com o divino. Deriva daí a percepção de que seu corpo é um veículo da vida universal e de que a energia que flui através de si é a expressão da energia divina.
(Eduardo Weaver )

A convergência entre a visão ecológica e a visão oculta e espiritualista do mundo está fazendo com que um número crescente de pessoas sensíveis ao apelo dos ambientalistas comece a vislumbrar a beleza das leis universais, da Sabedoria Divina.


Um comentário:

Unknown disse...

Riquíssimo texto. Muito obrigada!